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Mixagens para diferentes formatos

Foi-se o tempo em que a mixagem final do som de um filme representava o término do trabalho de áudio de um filme. Hoje, além de se pensar na cópia que será projetada na sala de cinema, a produção tem que se preocupar com os vários produtos que um filme pode gerar e as mídias que podem ser exploradas. DVD, Internet, celular, televisão por assinatura ou mesmo exibição do filme em aviões, são formatos que demandam títulos constantes para atender os mais variados gostos. Com isso, a mixagem de som 5.1 para uma cópia de cinema em 35mm precisa passar por ajustes, para atender de forma satisfatória às mídias que serão derivadas do produto principal.

Mudam as dinâmicas sonoras de cada meio e, em muitos casos, liberdades tomadas numa mixagem para cinema precisam ser revistas quando se prepara uma versão para televisão, por exemplo. Para um filme, pensando-se em sua projeção numa sala de cinema, as liberdades podem compreender uma mixagem mais aberta, ou seja, com elementos mais distribuídos entre as caixas frontais e de surround, maior exploração dos sons de impacto, graves, reproduzidos pelo sub woofer, além de se poder contar com um maior range dinâmico.

Por outro lado, quando a mixagem é pensada para uma transmissão em televisão, outras regras devem ser observadas. Por mais que alguns canais de televisão disponibilizem filmes com Dolby Surround, deve ser levado em conta o fato de que a grande maioria dos telespectadores ainda conta somente com a reprodução em estéreo. Mesmo quando falamos em DVD, ainda é pequeno o número de pessoas que dispõem de um receiver ou de um home theater. Assim, as opções de mixagem feitas para uma sala de cinema devem ser revistas. Como diz José Luiz Sasso, um dos principais mixadores do cinema brasileiro, "devo dizer que boa parte do que assisto (filmes que mixei) em DVD é muito ruim se comparado ao que fiz no estúdio! A principal perda na qualidade do áudio na versão 5.1 fica por conta da dramática diminuição da dinâmica da mixagem original. Nitidamente há uma compressão de áudio que o achata de forma excessiva. Na versão 2.0, aí nem se fala...".

Até por isso, muitas emissoras de televisão no mundo inteiro são rigorosas quanto ao material que compram. Exigem das produções de um filme que o áudio seja entregue em padrões bem definidos, evitando assim ter surpresas inesperadas. O resultado disso é que a produção seja forçada a olhar com maior atenção para o áudio, prevendo maiores gastos com mixagens específicas e não apenas o print master tradicional, que gera o áudio que será transcrito para o negativo ótico e irá gerar, com o negativo de imagem, a cópia 35mm de um filme.

Deliveries e back ups
Para melhor entender os procedimentos no áudio que visam atender todas as necessidades colocadas, é inevitável que falemos de um fator determinante no processo de mixagem: os deliverable items, ou deliveries, e os back ups. Com a entrada das grandes majors como parceiras dos filmes brasileiros de longa-metragem, os produtores forçosamente começaram a entender o pensamento de distribuição, divulgação e de sub-produtos que as majors seguem há muito tempo. São solicitadas todas as versões possíveis da mixagem de um filme para que se possa trabalhar à vontade, conforme a necessidade dos meios que serão explorados. Traduzindo isso em termos práticos, se um filme é composto de edição de diálogos, ambientes, efeitos, foley e música, a distribuidora pede que a produção forneça esses "blocos" de mixagens de forma separada, para que possam ser retrabalhados conforme a necessidade. Combinações podem ser refeitas a partir desses "blocos", para as diferentes mídias.

É usual que as produções, tanto de televisão quanto de cinema, trabalhem com o conceito de banda internacional (conhecida pela sigla M&E, de music and effects), prevendo-se a comercialização para outros países. Mas a multiplicidade de sub-produtos que pode ser explorada acentua esse conceito. Além de uma mixagem 5.1 e 2.0, agora é preciso pensar no trailer, nos formatos de som que serão usados para gerar material de extras de DVD, material de divulgação, além dos novos meios que começam a ser explorados, como Internet e celular. Paula Anhesini, supervisora de som da série 9mm São Paulo, exibida pela Fox, exemplifica: "Uma das formas de entrega que nos foi solicitada foi a versão mixada de cada episódio sem a música, o que significa ter o material para que seja reeditado, usado para chamadas do seriado, sem o empecilho de se usar trechos com música". Além disso, a série também teve pequenas vinhetas, chamadas de mobisodes, feitas especificamente para celular, o que exigia uma construção sonora bem diferente daquela feita para a televisão e para DVD.

No final das contas, quanto mais "blocos" de mixagens existir, melhor. De certa forma, trata-se do conceito de stems, que se aproxima da idéia de pré-mixagem. Ao longo de uma mixagem, podem ser criados vários blocos de stems, facilitando o trabalho do mixador na disponibilidade dos elementos para construir sua mixagem final. José Luiz Sasso explica: "Em português, o stem poderia ser chamado de pré-master da mixagem. No stem, o áudio que irá compor a mixagem final estará separado em blocos, por exemplo: músicas, ambientes, efeitos, ruídos de sala/foley e diálogos. Será a mixagem desses blocos que irá gerar o master da mixagem final e este último, por sua vez, é quem irá gerar o print master, que gerará o negativo de som óptico". A diferenciação entre pré-mixagem e stems é que numa pré-mixagem podemos contar com mais de um bloco/stem. Como exemplo, uma pré-mixagem de diálogos pode resultar em vários stems, como som direto, dublagem, som direto a ser utilizado na banda internacional, vozerio (walla) e assim por diante.

Em recente demonstração, na 123ª Convenção da AES, em Nova York, exemplos foram mostrados por Jeff Levison e por Brant Biles, este especializado na mixagem de filmes para DVDs. Demonstrando o sistema DTS-HD Master Audio, da DTS, pensado para DVDs Blu-Ray e que permite entre outras coisas a masterização para 7.1, ambos enfatizaram a possibilidade de se aproveitar ao máximo o novo sistema, tendo em mão um material completo, o mais aberto possível (o que significa com o maior número de stems possível). Não se altera a mixagem original significativamente (mesmo na eventualidade de não ser o mixador do filme a fazer a nova mixagem), mas pode-se adequá-la ao formato desejado. Em contrapartida, os dois técnicos mostraram casos em que esses stems não estavam disponíveis, ou porque não houve esse cuidado em se preservar os stems de mixagem ou porque não havia condições financeiras para tanto e então essa divisão de blocos / stems não havia sido pensada desde a edição de som.

A mixagem específica para outros meios, como o DVD, ainda é uma idéia incipiente na produção brasileira de filmes de longa-metragem. Poucos produtores ainda se deram conta dessa necessidade e reservam parte de seu orçamento para essas adaptações (que eventualmente levaria algumas horas de trabalho). A importância de se valorizar os deliverable items mostra-se hoje tão grande quanto a preocupação em se garantir os back ups de áudio de cada produto, uma vez que os formatos diversos sucedem-se rapidamente. Com isso, a necessidade de ter o material de som o mais completo possível é imperativo. Na próxima edição falaremos mais sobre os back ups.


Luiz Adelmo é supervisor e editor de som, além de mixador. É coordenador dos estúdios da Casablanca Sound e autor do livro “Som-Imagem no Cinema”, publicado pela Editora Perspectiva. Luiz Adelmo é supervisor e editor de som, além de mixador. É coordenador dos estúdios da Casablanca Sound e autor do livro “Som-Imagem no Cinema”, publicado pela Editora Perspectiva.



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About Wiliam damasceno

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